Vilma Reche Corrêa
Um robo na machonete
· Um dia. tinha duas moça na machonete.
· Entrou um malandro machonete.
· O malandro querião robar a borsa.
· Ele poxava praca e ela poxava parala
· Ate que ele cociguiu catar a borsa
· Ele saiu para fora
· A amoça falou para a guarda.
· O guarda foi atrais dele .....
· Ate que o guarda em comtrou e tomou a borsa.
· E prendeu ele na cadelha
· E elas ficaram socegadas
É importante o professor conhecer as peculiaridades dessas duas formas de expressão, para que possa tirar o máximo de proveito do contato entre elas, sem desconforto ou insegurança para os alunos porque as crianças, e todo os falantes em geral, são bastante sensíveis quando seu modo de falar é criticado de forma netagiva.
Os textos escritos por alunos das séries iniciais são bastantes parecidos com a fala, quanto a:
- Concordância -> duas moça,
- Redução de ditongo a vogal simples -> robo,
- Repetição -> machonete,
- Emprego do pronome reto oblíquo -> prendeu ele,
- Trancrição fonológica -> borsa.
A esses traços da oralidade some-se falta de familiaridade com as conveções da escrita padrão:
- Hipercorreção -> O malandro querião, poxava, cadelha,
- Juntura intervocabular e segmentação das palavras -> praca, parala, amoça, emcontrou,
- Uso indevido das letras -> comciguiu. ( Fascículo 4, pag. 13,14 e 15)
A análise dos textos escritos pelos alunos rende informações importantes para o professor quanto a "oralidade interfere na escrita, na grafia das palavras," e para verificar o que deve ser ensinado e o que já pode contar como objetivo alcançado.
Nesse encontro foi realizado:
- Reflexões sobre: O que é leitura?
- Estrutura de um textos,
- Leitura de alguns textos como: rótulos de produtos, receita em outro idioma, etc. ( Tivemos que identificar qual o gênero textual que estavamos lendo, qual o desfecho final da história antes de terminarmos a leitura do texto.)
- Leitura de imagens ocultas.
O que é leitura segundo os cursista:
-> É decodificar,
-> é absorver informações,
-> É ver além do texto.
TEXTO
Caso de secretária (Carlos Drummond de Andrade)
Foi trombudo para o escritório. Era dia de seu aniversário, e a esposa nem sequer o abraçara, não fizera a mínima alusão à data. As crianças também tinham se esquecido. Então era assim que a família o tratava? Ele que vivia para os seus, que se arrebentava de trabalhar, não merecer um beijo, uma palavra ao menos!Mas, no escritório, havia flores à sua espera, sobre a mesa. Havia o sorriso e o abraço da secretária, que poderia muito bem ter ignorado o aniversário, e entretanto o lembrara. Era mais do que uma auxiliar, atenta, experimentada e eficiente, pé-de-boi da firma, como até então a considerara; era um coração amigo.Passada a surpresa, sentiu-se ainda mais borocochô: o carinho da secretária não curava, abria mais a ferida. Pois então uma estranha se lembrava dele com tais requintes, e a mulher e os filhos, nada? Baixou a cabeça, ficou rodando o lápis entre os dedos, sem gosto para viver.Durante o dia, a secretária redobrou de atenções. Parecia querer consolá-lo, como se medisse toda sua solidão moral, o seu abandono. Sorria, tinha palavras amáveis, e o ditado da correspondência foi entremeado de suaves brincadeiras da parte dela.— O senhor vai comemorar em casa ou numa boate?Engasgado, confessou-lhe que em parte nenhuma. Fazer anos é uma droga, ninguém gostava dele neste mundo, iria rodar por aí à noite, solitário, como o lobo da estepe.— Se o senhor quisesse, podíamos jantar juntos – insinuou ela, discretamente.E não é que podiam mesmo? Em vez de passar uma noite besta, ressentida — o pessoal lá em casa pouco está me ligando —, teria horas amenas, em companhia de uma mulher que —reparava agora — era bem bonita.Daí por diante o trabalho foi nervoso, nunca mais que se fechava o escritório.Teve vontade de mandar todos embora, para que todos comemorassem o seu aniversário, ele principalmente. Conteve-se, no prazer ansioso da espera.— Onde você prefere ir? – perguntou, ao saírem.— Se não se importa, vamos passar primeiro em meu apartamento. Preciso trocar de roupa.Ótimo, pensou ele; – faz-se a inspeção prévia do terreno, e, quem sabe?— Mas antes quero um drinque, para animar — ela retificou.Foram ao drinque, ele recuperou não só a alegria de viver e fazer anos, como começou a fazê-los pelo avesso, remoçando. Saiu bem mais jovem do bar, e pegou-lhe do braço.No apartamento, ela apontou-lhe o banheiro e disse-lhe que o usasse sem cerimônia. Dentro de quinze minutos ele poderia entrar no quarto, não precisava bater — e o sorriso dela, dizendo isto, era uma promessa de felicidade.Ele nem percebeu ao certo se estava se arrumando ou se desarrumando, de tal modo os quinze minutos se atropelaram, querendo virar quinze segundos, no calor escaldante do banheiro e da situação. Liberto da roupa incômoda, abriu a porta do quarto./ Lá dentro, sua mulher e seus filhinhos, em coro com a secretária, esperavam-no cantando “Parabéns pra você.”
Considerações sobre o encontro
Esse encontro foi bastante enriquecedor em relaçao às concepções que tinha sobre a leitura. pude observar que ler não somente uma decodificação de letras , mas, que vai além disso, o leitor ao ler realiza analogias enter o que está escrito com suas experiência de mundo, sendo capaz de formular hipótese e tirar conclusões sobre as idéias expostas pelo autor do texto.
Um comentário:
Oi,Lindalva!
De quem é o texto "O roubo na machonete"? Achei bem interessante para se trabalhar os fatos linguísticos.
Abraços.
Adriana
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